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Páscoa

É a festa mais importante dos Judeus e tem raízes muito antigas e complexas, provenientes das suas festas já dos tempos de Canaã e dos patriarcas, como a imolação dos cordeiros na Primavera, rito próprio dos pastores nómadas, e a festa dos pães ázimos, rito mais próprio dos povos agrícolas, sedentários. Ambos os ritos servem para oferecer a Deus as primícias dos rebanhos e das colheitas. Mas, desde cedo, Israel uniu a recordação da libertação e saída do Egipto e a aliança no Monte Sinai a estas festas cósmicas. A festa natural converteu-se em «memorial» da salvação operada por Deus em favor do seu povo. A Páscoa enriqueceu-se assim de conteúdo. Os textos de Ex 12 e Dt 16 já supõem a fusão de todos os elementos, naturais e salvíficos, dando lugar à grande festa judaica, que nos séculos anteriores a Cristo acentuou cada vez mais o seu carácter escatológico e messiânico. 
A palavra «Páscoa» vem do hebraico pesah, que parece significar «coxear, saltar, passar por cima», talvez aludindo a algum «salto» ritual e festivo. Mas bem rápido passou a referir-se ao facto de que Javé «passou ao largo» pelas portas dos israelitas, no último castigo infligido aos egípcios, e, mais tarde, à passagem do Mar Vermelho, no trânsito da escravidão para a liberdade. A *Vulgata traduziu esta passagem por «transitus Domini». No aramaico, a palavra é pas.ha, que deu origem ao grego pascha. Outra interpretação colhida durante séculos foi a de «Páscoa-Paixão», de «padecer»; em grego, paschein. 
A Páscoa, no NT, é uma categoria fundamental para entender a obra salvadora de Cristo e da Eucaristia. Como diz João (Jo 13,1), «antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai…»: portanto, agora é o êxodo, o salto, a passagem de Cristo para o Pai na sua hora crucial de morte e ressurreição, o que dá sentido novo e pleno à Páscoa judaica. Na morte e ressurreição, em que Cristo é o verdadeiro Cordeiro pascal, Ele ofereceu o sacrifício definitivo e conseguiu a Nova Aliança, a reconciliação de Deus com a humanidade, e deu origem ao novo povo da Igreja. S. Paulo dá a entender claramente que a Páscoa tem agora um sentido novo para os cristãos: Cristo nossa Páscoa foi quem se imolou (cf. 1Cor 5,7-8). 
E assim como os Judeus, em cada ano, fazem o memorial da sua Páscoa- 
-Êxodo, sobretudo na ceia pascal, também os cristãos recebem o encargo de celebrar – com um ritmo mais frequente – o memorial da Páscoa de Cristo, que é a Eucaristia. Fosse ou não fosse pascal – no seu sentido histórico judaico – a ceia de despedida de Jesus, o que é certo é que a comunidade cristã entendeu que Ele dava novo e definitivo sentido pascal à sua morte e, portanto, também à celebração da Eucaristia. 
Parece que, em meados do século II, a comunidade cristã, além do domingo semanal, celebrava cada ano a Festa da Páscoa, como centro de toda a sua memória de Cristo, mas com a diferença de que, enquanto na Ásia Menor e Oriente, a celebravam sempre em 14 de Nisan, em Roma e no Ocidente, tinha-se estabelecido o domingo seguinte a essa data, dando prioridade à tradição dominical, em vez da data celebrada pelos Judeus. Os orientais, apelando à tradição do Apóstolo João, sublinham mais a Paixão e Morte de Cristo, enquanto que os ocidentais, apelando ao Apóstolo Pedro, celebram mais a ressurreição. As controvérsias durarão muito tempo, primeiro com o papa Aniceto e o bispo Policarpo, e, a seguir, com o papa Vítor. O Concílio de Niceia, em 325, estabeleceu para todos a norma romana: a Páscoa celebrar-se--á no domingo seguinte à Lua Cheia, depois do Equinócio da Primavera, data que pode cair entre 22 de Março e 25 de Abril. Mas, como sucedeu que, no século XVI, os orientais não aceitaram a reforma «gregoriana» do calendárico, continua ainda a haver uma diferença na data da Páscoa, entre as duas Igrejas. 
Pio XII empreendeu, em 1951, a reforma da celebração da Páscoa, que tinha chegado a um grau muito pobre de expressividade e participação. Por exemplo, a Vigília celebrava-se às primeiras horas de sábado, e ele passou--a para a noite de sábado para domingo. 
Agora, no calendário renovado, a Páscoa ocupa o lugar central de todo o ano: «Em cada semana, no dia a que foi dado o nome de “domingo” comemora a Ressurreição do Se¬nhor, que é celebrada também em cada ano, juntamente com a sua bem-aventurada Paixão, na grande solenidade da Páscoa» (NG 1). «O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico» (NG 18; cf. SC 5.106). «É a Festa das festas», a «Solenidade das solenidades». «O Mistério da Ressurreição, em que Cristo aniquilou a morte, penetra no nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo lhe seja submetido» (CIC 1169). A fes¬ta prolonga--se, antes de mais, numa oitava sole¬ne, que termina no Domingo «in albis», e, de¬pois, em outras seis semanas, até completar o número de cinquenta, com a festa do Pentecostes.