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Paz (gesto da)

O gesto da paz é o segundo elemento de preparação para a Comunhão, depois do Pai-Nosso. É um gesto simbólico «no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si própria e para toda a família humana, e os fiéis exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e a caridade mútua, antes de comungarem no sacramento» (IGMR 82). Na última reforma situou- 
-se este gesto imediatamente depois do Pai-Nosso, enquanto que, antes, se intercalava no meio da fracção do Pão. Agora é mais lógica a linha dinâmica da celebração. Precede-o uma oração que prepara o sentido do gesto, «Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos vossos Apóstolos…», e o convite: «Saudai-vos na paz de Cristo.». 
O gesto da paz entre os cristãos é muito antigo (cf., por exemplo, Rm 16,16). Não é estranha, por isso, a sua introdução na Eucaristia. Mas houve diversos lugares e modos de o realizar. Em muitas liturgias, por exemplo, na hispano-moçárabe, o gesto continua a fazer-se depois da Liturgia da Palavra, como «selo» da Oração Universal, antes da preparação dos dons sobre o altar, continuando assim expressamente a recomendação de Mt 5,23s sobre a reconciliação antes do ofertório. Em Roma, também se fez deste modo nos quatro primeiros séculos. Assim o atesta Justino, no século II: «Terminadas as orações, saudamo-nos com o ósculo» (Apologia I, 65,2; in Ant. Lit. 395). Tem sentido que assim se faça: a paz, com tudo o que tem de compromisso fraterno, é uma boa resposta à Palavra proclamada e celebrada em comum. 
Mas, em finais do século IV e princípios do V, em Roma (e no Norte de África), preferiu-se mudar o lugar este gesto. O papa Inocêncio I parece interpretá-lo como conclusão da anáfora e do Pai-Nosso, e não gosta que se faça antes: «Quanto à paz, dizes tu que é antes da celebração dos mistérios que alguns a anunciam ao povo e que os ministros sacerdotes a trocam entre eles. Ora, a paz deve ser proclamada depois daquelas coisas que eu não devo revelar. Com efeito, é claro que, através dela, o povo dá o seu consentimento a tudo aquilo que é posto em evidência pela paz que a conclusão vem selar» (Carta a Decêncio, n. 4, in Ant. Lit. 2712; cf. Os Santos Padres, mestres da liturgia, CPh 48, Barcelona 1993, pp. 6-7). Enquanto que Gregório Magno, em finais do século V, relaciona o gesto da paz directamente com a Comunhão. Prevaleceu esta última interpretação. O sentido profundo do gesto da paz fica muito bem ressaltado na proximidade da Comunhão: antes de aceder à mesa comum, para receber o mesmo pão da vida, a comunidade faz um gesto de reconciliação, como colocando em acto, simbolicamente, o que acaba de pedir e prometer no Pai-Nosso: ser perdoados e perdoar. 
O gesto conheceu uma história de de¬cadência, e, antes da última reforma, fazia-se praticamente só nas missas solenes, entre os membros do clero, enquanto que fora do presbitério se «enviava a paz», não a todo o povo, mas, por exemplo, às autoridades ou aos can¬tores, por meio do porta-paz, um recipiente plano de formas diversas, à semelhança de *relicário, que, por detrás de um cristal, conservava uma ¬ima¬gem sagrada ou uma relíquia. Agora, a paz é simultânea, horizontal e ascendente: antes de aceder à Comunhão, dá--se a paz aos que estão mais próximos, como sinal da fraternidade a que nos leva o participar todos na mesma comunhão com Cristo. Para o modo de dar a paz, entre os fiéis, «as Conferências Episcopais determinarão como se há-de fazer, tendo em conta a mentalidade e os costumes dos povos» (IGMR 82). 
Também em outras celebrações tem particular relevo o gesto da paz: por exemplo, quando o bispo abraça os con¬firmados ou os ordenados; ou quan¬do os presbíteros abraçam e acolhem os novos ordenados como presbíteros, os bispos aos novos bispos, os diáconos aos novos diáconos, os abades ao novo abade, os professos perpétuos 
aos que acabam de fazer votos perpétuos, etc.