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Pai-Nosso

A «Oração do Senhor», o Pai-Nosso, que o próprio Jesus ensinou aos seus discípulos (cf. Mt 6,9-13 e Lc 11,2-4), é uma oração que tem particular relevo, não só na oração pessoal, como também na oração litúrgica: «a Ora¬ção Dominical ou Pai-Nosso, que, pelo seu imenso valor, está na base da oração cristã e a nobilita nas suas diversas expressões» (Paulo VI, Marialis cultus, 49, falando da recitação do rosário). Tertuliano chamou a esta oração «breviarium totius Evangelii» (resu¬-
mo de todo o Evangelho) (De oratione, 1,6).
A Igreja conservou e rezou, desde sempre, com venerável apreço, esta oração. A *Didakê, dos finais do século I, afirmava que os cristãos a rezavam três vezes ao dia (VIII, 2-3). Na caminhada catecumenal, um dos momentos mais pedagógicos era o ensino do Pai-Nosso aos que se preparavam para o Baptismo. No terceiro escrutínio da quarta semana (Ordo Romanus XI, 69-71; in Antologia Litúrgica 6018-6021), -explicava-se-lhes e «entregava-se» esta oração («traditio orationis dominicæ», [tradição da oração dominical]).
Na celebração da Eucaristia, reza-se esta oração, pelo menos desde o século IV: a quinta catequese mistagógica de São Cirilo de Jerusalém oferece uma detalhada explicação da mesma, precisamente no momento da preparação da Comunhão (Cat. Mist. V, 11-
-18).
Os motivos desta inclusão na Eucaristia podem ser vários. Antes do momento em que a comunidade se dispõe a participar na mesa comum é convidada a dizer a oração da família dos filhos de Deus. E, para preparar a comunidade para a comunhão, nada melhor que uma atitude de mútuo perdão fraterno: «perdoai-nos como nós perdoamos.»
Além disso, nesta oração, «pede-se o pão de cada dia, que para os cristãos evoca principalmente o pão eucarístico; igualmente se pede a purificação dos pecados, de modo que efectivamente “as coisas santas sejam dadas aos Santos”» (IGMR 81). Portanto, os motivos seriam a alusão ao Pão eucarístico, o tom penitencial pedindo o perdão, e a dimensão fraterna, oferecendo o perdão aos outros, que o gesto da Paz tornará mais explícito.
No Missal actual a estrutura da sua oração é a seguinte:
• O presidente convida a orar («Fiéis aos ensinamentos do Salvador…» ou outra das monições que agora o Missal oferece);
• todos rezam a seguir o Pai-Nosso;
• o presidente diz o embolismo ou glosa («Livrai-nos de todo o mal, Senhor…»), ampliando a última das petições;
• e, por fim, a comunidade aclama com a doxologia («Vosso é o reino e o poder…»), que pôde ter sido muito bem parte do Pai-Nosso, nas primeiras gerações, como aparece na *Didakê.
Na Liturgia das Horas, o Pai-
-Nosso tem um lugar ainda mais importante. «Em Laudes e Vésperas, […], a seguir às preces, de acordo com uma venerável tradição, recita-se, pela sua especial dignidade, a Oração Dominical» (IGLH 194); «foi restabelecido a oração dominical»; «deste modo, tendo em conta a oração que dela se faz na missa, fica restabelecido na nossa época o uso da Igreja antiga de recitar esta oração três vezes ao dia» (Paulo VI, Laudis Canticum 8; cf. IGLH 194-196). O Pai-Nosso é o culminar destas duas horas, unindo-se a comunidade, depois dos hinos, salmos e cânticos, à oração do próprio Cristo: por isso, é aqui onde mais pode ser cantada.
Outras celebrações, em que a recitação do Pai-Nosso é especialmente significativa, são:
• no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA): a «entrega» do Pai-
-Nosso, no processo catecumenal (n. 188--192: motivação e textos);
• no Baptismo de crianças, porque, como dizem as sugestões do CELAM: «a oração do Pai-Nosso é o termo lógico da liturgia do Baptismo. A criança, que se tornou filha de Deus pelo Baptismo, chama a Deus Pai pela voz dos seus pais e padrinhos, com as mesmas palavras de Jesus… Como membro da família dos filhos de Deus, reza a oração com a qual a família saúda o mesmo Pai» (cf. EDREL 54). Além disso, este Pai-Nosso, no final do rito do Baptismo, quer de alguma maneira prefigurar a futura participação na Eucaristia (cf. a monição do Ritual: RBC 103);
• na celebração sacramental da Penitência, o Pai-Nosso tem um sentido preferente, porque também inclui a petição de perdão: nas celebrações comunitárias, antes das confissões, «diz-se a oração dominical, que nunca se há-de omitir» (CP 27). O mesmo nas celebrações penitenciais não sacramentais (cf. CP 36);
• nas Assembleias dominicais sem presbítero (ADAP): depois da celebração da Palavra, e antes da comunhão, todos recitam ou cantam o Pai-
-Nosso.