Exorcismo
A
palavra vem do grego, ex-orkizein (conjurar, lançar fora). O Evangelho, relata,
com freqüência, episódios em que Jesus, com o seu poder, liberta os possessos
do demônio. Esse mesmo encargo foi transmitido aos discípulos, no dia da
Ascensão: «Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demônios
em meu nome…» (Mc 16,17).
O
exorcismo é uma ação, como a bênção, constituída de palavras e gestos –
insuflação, imposição das mãos, sinal da cruz ou aspersão com a água benta –,
pela qual a Igreja, em nome de Deus, liberta e protege do mal. Não é um
sacramento, mas sim um sacramental que se aplica a uma pessoa ou a uma coisa
(exorciza-se a água, os óleos, os lugares), que transmite o poder salvador e a vitória
pascal de Cristo, libertando-as da influência do demônio (cf. Lc 8,26-39; Jo
12,31).
Na
história da Igreja praticou-se o exorcismo, no processo catecumenal, sobretudo,
em ambientes pagãos, como se vê insistentemente no Ordo Romanus XI, dedicado
aos sacramentos de iniciação. O ministério do Exorcista pertencia às quatro
Ordens Menores (juntamente com o Ostiário, o Leitor e o Acólito). Paulo VI, em
1972, (Ministeria quædam), suprimiu essas quatro ordens e estabeleceu dois
«ministérios», o de leitor e o de acólito, ainda que, onde os episcopados o
julguem conveniente, pela grande influência dos cultos pagãos, possam instituir
também o de exorcista.
Em
1998, correspondendo às recomendações expressas no artigo 79.º da Constituição
conciliar Sacrosanctum Concilium, sobre a necessidade de serem revistas as
normas e as orações contidas no título XII do Ritual Romano, a Congregação do
Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos procedeu à publicação da edição
típica De Exorcismis et Supplicationibus quibusdam, cuja versão em língua
portuguesa teve aprovação por Decreto da Sé Apostólica, em 2000.
Porém,
o Código de Direito Canônico (c. 1172) reserva, explicitamente, ao Ordinário do
lugar a autorização para o exorcismo de possessos. E o novo Ritual adverte, quanto
à «necessidade de utilizar o rito do exorcismo, o exorcista julgará com
prudência, depois de diligente investigação […] e consulte, na medida do
possível, peritos em ciência médica e psiquiátrica, que tenham a sensibilidade
das realidades espirituais» (n. 17).
No
novo Ritual do Batismo de Crianças, o exorcismo usa a forma deprecativa: a
oração dos fiéis prolonga-se com uma oração que pede fortaleza para as crianças
no caminho da vida, e proteção contra todo o mal. Este exorcismo está
acompanhado pela unção pré-batismal no peito, ou, se parecer melhor, a
imposição das mãos sobre a cabeça, significando, em ambos os casos, a fortaleza
que se pede a Deus para esta luta.
No
Ritual de Adultos fala-se, para o tempo do catecumenato, de uns «primeiros
exorcismos» ou «exorcismos menores», que se realizam com as mãos estendidas
sobre os catecúmenos, pedindo a força de Deus para «a luta entre a carne e o
espírito» e mostrando a necessidade e a confiança do auxílio divino (RICA 101 e
109-118). A seguir, na última Quaresma, na celebração dos escrutínios, volta-se
a repetir este gesto: «No rito do exorcismo, celebrado pelos sacerdotes ou
pelos diáconos, os *eleitos, já instruídos pela Igreja sobre o mistério de
Cristo que salva do pecado, são libertados das conseqüências do pecado e da
influência diabólica, são robustecidos para prosseguirem a sua caminhada
espiritual, e abrem o coração para receberem os dons do Salvador» (RICA 156). A
oração deste exorcismo é muito expressiva (cf. RICA 164).
Num
tempo em que a figura do demônio é objeto de dúvidas e discussões, o exorcismo
é um ato de fé no Mistério Pascal de Cristo e a aplicação da sua força
vitoriosa na nossa luta contra o mal.
