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Ofertório

Chama-se «ofertório» – «tempo ou acção de oferecer» – à parte da Missa em que, depois da Liturgia da Palavra, se preparam o altar e os dons para a liturgia eucarística. 
A introdução ao Missal Romano descreve os diversos elementos do Ofertório: a procissão dos dons para o altar, as orações da sua apresentação, a colecta na comunidade, o canto do Ofertório, o incenso, o lavabo e a oração sobre as oblatas (cf. IGMR 72-77). 
Esta estrutura conheceu evoluções muito notórias, ao longo da história. No século II, o testemunho de Justino (na sua Apologia, por volta de 150) descreve este momento de um modo muito simples: «apresenta-se, àquele que preside sobre os irmãos, pão e uma taça de água e vinho misturado: depois de o receber, eleva ao Pai de todas as coisas louvor e glória.» Nos séculos seguintes, foram-se desenvolvendo alguns aspectos, sobretudo a procissão dos dons por parte dos fiéis, a colecta em favor da Igreja e dos pobres, cantos de ofertório e várias orações pessoais ou «apologias» com as quais o sacerdote professa a sua indignidade diante do santo Mistério a que vai presidir. 
O Missal de Paulo VI não chama «ofertório» a este espaço, mas, com mais propriedade, «preparação das oferendas» ou «preparação dos dons», e suprimiu algumas das orações pessoais, como a «Suscipe sancta Trinitas», diminuindo assim o tom excessivamente ofertorial que se tinha acrescentado a este momento e recordando que a verdadeira oferenda, e, portanto, o «ofertório» da Missa, não é o do pão e do vinho, mas o do Corpo e do Sangue de Cristo, e isso acontece dentro da Prece Eucarística: «Celebrando, agora, Senhor, o memorial […] nós Vos oferecemos o pão da vida e o cálice da salvação.» Por isso também, nas traduções das orações de apresentação do pão e do vinho, se há-de evitar traduzir o «offerimus», que aparece em latim, pelo «vos oferecemos», reservando esta expressão para a outra oblação, dentro da Prece Eucarística: aqui usa-se «Vos apresentamos», nas diversas línguas. 
Contudo, tem também sentido que o pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho, assim como o «dinheiro ou outros dons para os pobres e para a Igreja» (IGMR 73), se apresentem com intenção ofertorial, não só como algo funcional e prático, mas também simbólico, a modo de preparação e de incorporação pela parte dos fiéis à oferenda sacrificial que de si mesmo fez Cristo na cruz e que se actualiza na Eucaristia. Assim, a Igreja, ao mesmo tempo que «oferece a Deus Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada», deseja que os fiéis «aprendam a oferecer-se também a si mesmos» (IGMR 79f).
Sem adiantar ideias próprias da Prece Eucarística, exprime-se que, de um modo simbólico, já começa aqui a nossa inserção no ofertório de Cristo e da Igreja. A mesma intenção têm as orações pessoais que ficaram: a da mistura da água e do vinho, o «in spiritu humilitatis» e a do lavabo do sacerdote. Assim, o pão e o vinho são símbolo dos fiéis e da sua existência, que se une à oferenda de Cristo.