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inculturação

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O Concílio Vaticano II ofereceu «normas para uma adaptação [da liturgia] à índole e tradições dos povos» (SC 37-40). É uma tarefa difícil, ainda não plenamente realizada, e que João Paulo II, na sua carta Vicesimus Quintus Annus, de 1988, assinalou como tarefa prioritária, para que os valores culturais dos povos possam harmonizar-se com a liturgia cristã.
Em 1994, a Congregação para o Culto Divino, depois de uma ampla consulta, publicou o Directório sobre A Liturgia Romana e a Inculturação, que é a melhor reflexão e a norma mais concreta sobre o tema.
O termo «adaptação», empregado pelo Concílio, costuma reservar-se hoje para aqueles processos mais simples e de tipo pedagógico. «Aculturação» costuma indicar a aceitação, na liturgia, de alguns elementos culturais de um povo que podem exprimir melhor o mistério que se celebra. Melhor seria uma justaposição, e não uma assimilação. Enquanto que «inculturação» é o termo preferido para designar o processo mais profundo pelo qual a liturgia e a cultura se enriquecem, dinâmica e mutuamente, a liturgia evangeliza e fecunda as culturas, e, ao mesmo tempo, deixa-se enriquecer pelas mesmas, para exprimir e celebrar o Mistério de Cristo encarnado na mentalidade de um povo.
A inculturação é um processo que, inspirado na Encarnação de Cristo, se realizou continuamente na história da comunidade cristã, tanto na evangelização e na teologia como na celebração litúrgica. Foi um contínuo esforço de adaptação ao tempo, de progressiva encarnação, assumindo, assimilando, discernindo, transformando os valores culturais em que se moveu a comunidade cristã: quando do mundo cultural judaico se passou ao helénico, e depois ao romano, e, a seguir, ao dos povos bárbaros e assim sucessivamente, nos diversos povos e culturas. Isto deu origem a muito diversificadas famílias litúrgicas, que com linguagens e estruturas notoriamente diferentes celebram o mesmo Mistério de Cristo. Hoje, continua de pé o repto e a urgência desta inculturação, por encargo do Concílio e das normativas actuais.
O Directório de 1994 assinala as exigências prévias e as motivações desta inculturação, a partir da eclesiologia, da natureza da acção litúrgica como obra de Deus e como comunicação do Mistério Pascal de Cristo, da primazia da Palavra e da identidade dos diversos sacramentos da Igreja. Quando, sob a direcção das Conferências Episcopais respectivas, se realizem os sérios estudos que devem configurar uma inculturação litúrgica, deve-se ter em conta que a finalidade de todo este processo é sem¬pre pastoral, ou seja, que a comunidade cristã possa entender e celebrar melhor o que celebra na liturgia, e, além disso, respeitando não só a identidade profunda do mistério celebrado, mas também, no âmbito da Igreja Romana, a unidade substancial do Rito Romano.
Os campos em que, prioritariamen¬te, se convida a estudar esta inculturação, são, além da língua e suas traduções, o da linguagem, o canto e a música, os gestos e atitudes corporais, a arte, etc. Na liturgia dos Sacramentos, sobretudo, os da Iniciação Cristã, o do Matrimónio e as exéquias, não só se admite essa inculturação como se fazem convites para a elaboração dos seus respectivos livros litúrgicos. Naturalmente que se exigem todas as regras de uma sã pedagogia, para realizar e introduzir estas mudanças. Para que, uma vez mais, o Rito Romano demonstre a sua vitalidade e a sua secular capacidade de se encarnar nas diferentes culturas, para celebrar e comunicar eficazmente a salvação universal de Jesus Cristo.