Páginas

Glória

Glória

A palavra latina gloria (em grego, doxa) tem uma densa ressonância teológica para os cristãos: a glória de Deus, a sua luz, a sua grandeza, o seu amor, manifestou-se em Jesus Cristo, esplendor da glória do Pai. Cristo é glorificado pelo Pai e, por sua vez, Ele glorifica o Pai (cf. Jo 17,1). Em ambas as direções, esta glorificação sucede sobretudo na sua morte e ressurreição.
Com a palavra glória começam duas das doxologias ou cânticos de louvor mais tradicionais dos cristãos: na Missa, o hino Glória a Deus nas alturas, e, na oração em geral, e na salmodia e rosário, em particular, o Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
a) O hino Glória a Deus nas alturas «é um antiquíssimo e venerável hino com que a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro» (IGMR 53). Chama-se-lhe também «hino angélico», porque Lucas (2,14) põe o seu início na boca dos anjos, na noite do nascimento de Jesus.
É um dos poucos hinos não bíblicos que nos chegaram das primeiras comunidades, com o Te Deum e o Ó luz gozosa: o Concílio de Laodiceia, no século IV, proibiu os cânticos não bíblicos, os chamados «idióticos» ou próprios. O Glória, na liturgia oriental, ao princípio, pertencia sobretudo à oração matutina, como continua a acontecer na liturgia bizantina. No século IV, passou à Missa, primeiro, só para a festa do Natal, depois, para as festas e domingos, nas missas presididas pelo bispo, depois com maior frequência, a partir do século X.
O Glória está colocado, normalmente, nos ritos de entrada dos dias de festa, antes da oração colecta do dia. Mas, na Vigília da Páscoa, encontra-se no meio da Liturgia da Palavra, precisamente para sublinhar a passagem das leituras do AT às do NT, e, além disso, com acompanhamento festivo de música, sinos e flores. O seu canto também é solene na Eucaristia vespertina de Quinta-Feira Santa e deveria sê-lo, sobretudo, na noite de Natal. É entoado pelo sacerdote ou por um cantor, e continuado, se possível, por toda a assembleia.
O seu conteúdo é um bom resumo da História da Salvação: a glória a Deus e a paz aos homens. Os louvores ao Pai, Senhor e Rei do Universo; os louvores também a Cristo, Senhor, Cordeiro, Filho, o que tira o pecado do mundo, o único Santo; tudo isso concluído com a doxologia: «Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai».
b) A doxologia menor Glória ao Pai… também é antiquíssima, e resume outras que aparecem nas páginas do NT. Pelo menos desde o século VI (na Regra de S. Bento), já era costume, na reza do ofício, acabar cada salmo com esta invocação de louvor. Presentemente, «no final do salmo inteiro, concluir-se--á, como é de uso, com o “Glória ao Pai” e “Como era”. O “Glória ao Pai” é a conclusão tradicional muito apropria¬da, pois vem dar à oração do AT um sentido laudativo, cristológico e trinitário» (IGLH 123). Também se diz o “Glória ao Pai” no início de cada hora, depois do «Deus, vinde em nosso auxílio».
Na recitação do Rosário mariano, cada mistério conclui-se com este louvor: «a doxologia Glória ao Pai, em conformidade com uma orientação generalizada da piedade cristã, encerra a oração com a glorificação de Deus, uno e trino, do qual, pelo qual e para o qual são todas as coisas» (Paulo VI, 
MC 49).