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Comer

Comer

Juntamente com o beber, o comer é o gesto central da Eucaristia cristã.
Se o AT começa com o «não comas» do Génesis (2,17), no NT, escuta-se o incumbência: «tomai, comei» (Mt 26,26). E se, então, no AT, a conseqüência seria: «no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2,17), agora, no NT, a promessa é contrária: «quem realmente come... tem a vida eterna» (Jo 6,54).
O ato de comer tem o valor de alimento e reparação das forças. Mas, ao mesmo tempo, tem conotações simbólicas muito expressivas: comer, como fruto do próprio trabalho; comer em família; comer com os amigos; comer em clima de fraternidade; comer com sentido de festa.
No contexto cristão da Eucaristia, o ato de comer tem igualmente vários sentidos. Ao comer o Pão, os fiéis acreditam que se alimentam do Corpo de Cristo. A sua palavra («isto é o meu Corpo») continua eficaz e o seu Espírito foi quem deu, a esse pão que se deposita sobre o altar, a sua nova realidade: ser o Corpo do Senhor Glorificado. Este é o primeiro sentido que Cristo quis dar à comida eucarística: «a minha carne é verdadeira comida»). Ele é o «viático», o alimento para o caminho.
«O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de Cristo Ressuscitado, “vivificada pelo Espírito Santo e vivificante” (PO 5), conserva, aumenta e renova a vida de graça recebida no Batismo. Este crescimento da vida cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático» (CIC 1392).
Há ainda outros valores e graças que Cristo exprime no Evangelho, com este simbolismo da comida: o perdão, a alegria do reencontro, a festa, a plenitude e felicidade do Reino futuro. Basta recordar a parábola do filho pródigo, acolhido em casa com uma boa comida; ou a das bodas do filho do rei; ou a multiplicação dos pães e dos peixes no deserto; ou a expressiva presença de Jesus em refeições, em casa de Zaqueu, de Mateus, do fariseu, de Lázaro: e as refeições de Jesus com os seus discípulos, tanto antes como depois da Páscoa, que eles recordarão com muito gosto (cf. At 10,40-42).

Paulo entendeu a comida também como símbolo da fraternidade eclesial. O pão da Eucaristia, além de unir a Cristo, também constrói a comunidade: «somos um só corpo, porque todos participamos desse único Pão» (1Cor 10,17). «Comer com», por exemplo, com os cristãos procedentes do paganismo, é um sinal expressivo e favorecedor da unidade de todos na Igreja, seja qual for a sua origem: cf. as explicações que a comunidade de Jerusalém pede a Pedro (cf. At 11,3) e as de Paulo em Gl 2,12.