Calendário
Esta é uma palavra da mesma raiz que a
anterior. Chama-se calendário ao sistema de organização do tempo, com os seus
anos, meses e dias. Já desde a Antiguidade que as várias culturas organizavam a
sua contagem do tempo. Algumas fizeram-no inspiradas no *ciclo lunar, e outras,
no solar; umas mostraram-se mais atentas aos acontecimentos cósmicos e sociais,
outras, aos religiosos. Na Bíblia, empregava-se o calendário hebraico mais
antigo, com a Páscoa fixa, e, desde os tempos de Antíoco Epífanes (175-164 a.C.),
com a Páscoa móvel, que, segundo se julga, foi um dos motivos por que se
organizaram, junto ao Mar Morto, as comunidades de Qumran, em sinal de
contestação contra a paganização (helenização) crescente do Povo judeu.
Chamou-se calendário «Juliano» ao que o
imperador Júlio César promulgou, 46 anos antes de Cristo, estabelecendo, por
exemplo, que os anos bissextos tivessem 366 dias. Mais tarde, já no século XVI,
ao verificar-se que este dia a mais, de quatro em quatro anos, não resolvia o
afastamento cada vez mais acentuado, em referência ao tempo solar, o papa
Gregório XIII procedeu ao embolismo de 11 dias, como forma de correcção: em
1582, no mês de Outubro, do dia 4 passou-se para o dia 15. A este calendário
passou a chamar-se «Gregoriano». Este acerto não foi consensual, e demorou
bastantes anos até ser aceite pela maioria dos Estados. Actualmente, em registo
religioso não-
-cristão mantêm-se a maioria dos
calendários tradicionais de cada religião, e, em ambiência cristã, persistem
ainda algumas resistências, em especial por parte dos Ortodoxos orientais, como
é o caso dos Patriarcados de Jerusalém, Rússia, Geórgia e Sérvia, que continuam
a reger-se pelo calendário Juliano antigo, e a celebrar a Páscoa em data
distinta das Igrejas do Ocidente.
Na reforma pós-conciliar, Paulo VI
promulgou o novo Calendário Romano, em 1969, com a Carta Apostólica Mysterii
Paschalis e com as Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico e sobre o Calendário, em
que se explicam os dias litúrgicos, os tempos fortes (Páscoa, Quaresma, Natal,
Advento), o Tempo Comum e as Rogações e Têmporas. Também se estabelecem as
relações entre os calendários particulares (nação, região, diocese, famílias
religiosas, etc.) e o universal da Igreja, assim como a «tabela dos dias
litúrgicos».
Em apêndice ao documento conciliar sobre
a Liturgia (SC), o Concílio Vaticano II fez uma «declaração sobre a revisão do
Calendário», reconhecendo os desejos universais de uma estabilização maior do
calendário, com a fixação da data da Páscoa, e estabelecendo os critérios para
essa empresa, que parece não ter dado ainda muitos passos na sua realização.
