Asperges, aspersão
A
Eucaristia dos domingos, sobretudo durante a Cinquentena Pascal, recomenda-se
que comece, não com o ato penitencial normal, mas com a aspersão, em recordação
do Batismo.
Pedindo
a Deus que renove em nós a graça com que nos encheu no dia da nossa primeira
incorporação em Cristo e na sua Igreja, o sacerdote asperge-se primeiro a si
mesmo, a seguir aos seus ministros mais próximos, e, depois, enquanto se entoa
um cântico batismal, deslocando-se pela igreja, asperge toda a comunidade
reunida.
Constitui
um gesto litúrgico que, desde há séculos, enquanto se cantava o «Asperges» ou o
«Vidi Aquam», já se fazia no começo das missas solenes. Agora, porém,
convida-se a fazê-lo com maior expressividade em todas as missas dominicais,
seguindo um dos três formulários que o Missal oferece em apêndice.
A
palavra «asperges» vem do latim, «ad-spargere» (espalhar um líquido como sinal
de purificação). Em concreto, faz-se referência ao v. 9 do Salmo 51[50], o
«Miserere»: «asperges me hyssopo et mundabor», «aspergi-me com o hissope e
ficarei puro». Aspergir é espalhar, borrifar uma pessoa ou uma coisa ou um
lugar, «espalhando» água sobre eles. Também se pode aspergir com sangue: cf. o
gesto simbólico de Ex 24,8, quando Moisés asperge com o sangue o altar e o
povo, para selar a Aliança entre Javé e Israel (cf. Heb 9,19-22; 12,24); ou
também com cinza: em Lm 2,10 os anciãos «lançam cinza sobre as suas cabeças».
Aspergir
com água pode significar a purificação (cf. Heb 10,22) ou a proteção contra o
mal, à maneira de bênção e exorcismo. Na liturgia aspergem-se o altar, as
paredes e os espaços da igreja, na sua dedicação («o bispo asperge o povo, que
é o templo espiritual, e asperge também as paredes da igreja e o altar»: Ritual
da Dedicação, 11), e também as diversas coisas ou lugares que se querem benzer,
como edifícios, cemitérios, sinos, ramos, campos, etc. («para que recordem o
Mistério Pascal e renovem a fé do seu batismo»: Cerimonial das Bênçãos 26d), e
de um modo saudoso, nas exéquias, o féretro do defunto cristão, recordando
também a sua condição de batizado.
Mas,
sobretudo, na Vigília Pascal, e depois, como dissemos, no começo da Eucaristia
dominical, asperge-se o povo cristão, recordando que somos povo de batizados e,
por isso, somos convocados para a Eucaristia: «por meio desta água renovai em
nós a fonte viva da vossa graça… reavivai em nós a recordação e a graça do Batismo,
nossa primeira Páscoa.» Ao entrarmos na igreja, também invocamos a bênção de
Deus para as ocupações correntes da vida de cada um, benzendo-nos com água
benta, mas assume maior expressividade quando essa bênção é recebida
comunitariamente.
(Dicionário
Elementar de Liturgia - José Aldazábal)
