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Liturgia

Liturgia
Vem do grego, leitourgia, que por sua vez é composta das palavras leitos (popular, do povo) e ergon (acção, obra, trabalho). Portanto, referia-se, já desde o seu uso grego, a uma acção, a um trabalho, que não visa a utilidade privada, mas a da comunidade, tanto no terreno social como no religioso. 
A Bíblia, na sua tradução grega do AT, aplicou o termo sobretudo ao serviço cúltico do Templo. No NT, fala-se também desta liturgia judaica do Templo (por exemplo, falando do ministério de Zacarias, pai de João Baptista, como sacerdote no Templo: cf. Lc 1,8), mas, quando se aplica às próprias realidades cristãs, chama-se «liturgo» a Cristo, Sumo Sacerdote (sobretudo na Carta aos Hebreus, por ex., cf. Heb 8,1-6), e também à «liturgia da vida», como o ministério de um apóstolo (cf. Rm 15,16), ou à caridade fraterna (cf. Rm 15,17; cf. Fl 1,15). 
Para designar as celebrações cristãs empregaram-se, ao longo dos sé¬culos, outros termos, como «ofício», «sa-grados ritos», «celebração», «ac¬ção», etc. Na linguagem das Igrejas orien¬tais, «liturgia» costuma denominar estritamente a Eucaristia («a liturgia de S. João Crisóstomo», por exemplo). Na Igreja Ocidental, só no século XIX – e nos documentos oficiais praticamente só no século XX – se usa a palavra «liturgia» com o sentido que lhe damos agora. Com este nome se designam aquelas celebrações que a Igreja considera como suas e estão contidas nos seus livros oficiais, e se realizam pela comunidade e ministros assinalados para cada caso: assim, é «litúrgica» a celebração da Eucaristia e dos demais sacramentos, a Liturgia das Horas, os sacramentais, etc. Enquanto que não o são, embora sejam muito dignas e louváveis, o Rosário, a Via-sacra e outras devoções pessoais e populares. 
A liturgia cristã chegou-se a entender com muito mais profundidade, desde que o Vaticano II empreendeu a sua reforma e os novos livros litúrgicos a apresentaram nos seus melhores valores, superando certas definições que a identificavam sobretudo com as cerimónias ou rubricas externas. Pela liturgia, «se realiza a obra da nossa Redenção» (SC 2). Pela celebração, sobretudo dos sacramentos, Cristo Glorioso comunica a força salvadora do seu Mistério Pascal, tornando-se presente na comunidade, na pessoa do ministro, na proclamação da Palavra, na acção de todos os sacramentos, sobretudo da Eucaristia, onde, identificado com o pão e o vinho, se nos dá, Ele mesmo, como alimento (cf. SC 7). 
«Realmente, nesta obra tão grande, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele presta culto ao Eterno Pai. Com razão, pois, se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo; nela, através de sinais sensíveis, cada qual a seu modo, é significada e realizada a santificação dos homens e o Corpo Místico de Jesus Cristo – a Cabeça e os seus membros –, presta a Deus o culto público integral» (SC 7). 
«Por isso, toda a celebração litúrgica, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo, que é a Igreja, é acção sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, nenhuma outra acção da Igreja pode igualar» (SC 7). «A liturgia é o cume para o qual se dirige a actividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde provém toda a sua força» (SC 10). 
O Catecismo da Igreja Católica dedica a sua segunda parte à «Celebração do Mistério Cristão» (CIC 1066-1690), e é, actualmente, a melhor apresentação que a Igreja oferece, das suas celebrações sacramentais. Nela, antes de mais, aparece a liturgia como obra de Deus Trino, que nos comunica a graça da Páscoa, e, por outro lado, como obra da comunidade cristã, presidida e animada pelos seus ministros, nas diversas celebrações. 
Costuma-se chamar também «liturgia» à «ciência litúrgica», à qual seria melhor dar outro nome, por exemplo, «litúrgica», para distinguir o que é ciência – conhecimento e ensino da celebração litúrgica, com a sua teologia, a sua história, a sua pastoral – daquilo que é o acto mistérico da celebração.