Gregoriano (canto)
O canto chamado gregoriano foi considerado como o mais próprio e característico da Igreja ocidental, sobretudo desde que S. Pio X, em 1903, (Tra le sollecitudini) o mandou restaurar e o recomendou vivamente como canto litúrgico por excelência.
O Concílio continuou a recomendá-lo: «A Igreja reconhece o canto gregoriano como o canto próprio da Liturgia romana» (SC 116) e o mesmo fizeram os documentos que posteriormente regularam o canto litúrgico: Musicam Sacram, de 1967, MS 50.52 (EDREL 2444.2446), IGLH (de 1971) 274… Embora também reconheçam a legitimidade do canto polifónico e do religioso popular, nas línguas vernáculas.
É obscura a origem do canto gregoriano. Parece que se foi formando paulatinamente, a partir de heranças tonais orientais, romanas antigas, germânicas e da Gália, onde adquiriu consistência durante a reforma carolíngia, no século VIII. Intencionalmente, os seus promotores atribuíram-no ao papa São Gregório Magno (590-604), personalidade muito prestigiada, na organização da Liturgia romana e também no seu canto, mas, evidentemente, muito anterior, e, por isso, é impossível que tenha sido o seu autor e muito menos o seu compilador ou organizador. Este canto, depressa se estendeu a toda a Igreja, excepto à Hispânia, que tinha já a sua música pró¬pria, de que um dos melhores testemunhos é o Antifonário de Leão. Infelizmente, não se pôde ainda decifrar a chave desta música hispânico-moçárabe.
O canto gregoriano, chamado também «canto-chão», tem as seguintes características: é canto a uma só voz, de ritmo livre, de tonalidade diatónica (em oito tons básicos), que não necessita de acompanhamento musical. Apesar de ter perdido muito terreno, a favor do canto polifónico ou popular, o gregoriano continua a ter um sentido muito notável na celebração cristã, sempre que os cantores ou a comunidade o possam cantar, pelo menos nas suas peças mais acessíveis. Também, fora da celebração, volta a ter um apreço notório, devido ao seu valor cultural e às suas qualidades serenantes.
O adjectivo gregoriano é também usado noutras realidades: calendário gregoriano (1582), neste caso, devido ao papa Gregório XIII. E as «missas gregorianas», cuja origem é precisamente o testemunho que dá São Gregório Magno, nos seus Diálogos, de um monge falecido, que alcançou a salvação, por ter beneficiado da acção de trinta missas celebradas por sua intenção. Desde o século VIII-IX, foi-se espalhando este costume, que ainda se mantém em muitas partes, de celebrar por um defunto trinta missas (um Trintário), em outros tantos dias seguidos.
