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Culto da Eucaristia

Culto da Eucaristia

A palavra culto vem do latim, colere (cultivar), e aplica-se, na Liturgia, às manifestações de veneração e respeito por pessoas ou coisas. Por isso, é este o nome que recebe muitas vezes a própria celebração litúrgica: o culto que dirigimos a Deus, as celebrações do culto. Mas também se fala do culto à Virgem, aos Anjos, aos Santos ou às relíquias. E, sobretudo, à Eucaristia.
Pode-se dizer que, nos primeiros séculos, o culto da Eucaristia estava como que implícito na própria celebração do sacramento, que era tratado com suma veneração. Quando se levava a comunhão aos ausentes ou quando se começou a guardar a Eucaristia para o resto da semana, foram-se acentuando os sinais exteriores de culto, coisa bem lógica, pela gozosa convicção da presença de Jesus Cristo nela. Testemunhos de Hipólito e Orígenes, nos séculos II-III, falam já deste respeito explícito à Eucaristia que se conservava nas casas.
Ainda que a finalidade primordial da «Reserva» da Eucaristia no sacrário não seja a de lhe prestar culto, mas a disponibilidade para a levar aos doentes, sobretudo para o caso do Viático, é conatural que os cristãos tenham uma atitude de adoração ao Senhor que se nos dá como alimento na sua Eucaristia.
Este culto desenvolveu-se mais a partir dos séculos XII-XIII, como reação às controvérsias do século anterior, em que Berengário chegou a negar a presença real. Por outro lado, a celebração da Eucaristia, principal intenção do sacramento – «tomai e comei» –, tinha caído numa situação de notável decadência, quanto à participação da comunidade. Nas formas de culto, muito mais acessíveis e participadas, o povo cristão pôde manifestar a sua fé e a consciência que continuava a ter da importância da Eucaristia na vida eclesial e pessoal. Do século XIII data a origem da festa do Corpo de Deus.
Os Reformadores do século XVI, ao mesmo tempo que protestavam contra a excessiva ênfase que, então, tinha tomado o culto fora da celebração, chegaram a negar a legitimidade deste culto, qualificando-o de idolatria. O Concílio de Trento tomou a sua defesa, formulando claramente o que, ao longo dos séculos, já tinha sido fé universal da Igreja (sessão XIII, c. 6).
O Concílio Vaticano II preocupou-
-se sobretudo com a celebração da Eucaristia, não tanto do seu culto. São notórios os resultados conseguidos quanto à recuperação de valores celebrativos, como a participação, a Palavra de Deus, a comunhão, os ministérios, etc. Certamente não era intenção do Concílio que ao mesmo tempo acontecesse uma diminuição de afeto ao culto fora da celebração, que também tem a sua legitimidade e o seu valor inegável, no conjunto deste sacramento.
Dois documentos posteriores voltaram a ressituar e motivar oportunamente o culto eucarístico: a Instrução Eucharisticum Mysterium, de 1967, e o Ritual da Sagrada Comunhão e Culto Eucarístico fora da Missa, de 1974.
O culto:
• prolonga o clima eucarístico da Missa, num tom de oração mais contemplativa e repousada, acentuando os sinais da adoração, enquanto que a celebração acentua os da participação na ação eucarística, sobretudo a Palavra e a comunhão;
• os momentos de culto, pessoal e comunitário, preparam, por sua vez, uma celebração mais consciente e profunda da Missa;
• ajudam a que as mesmas atitudes eucarísticas – ação de graças, sintonia com Cristo no seu sacrifício pascal, auto-oferenda, invocação – impregnem as diversas atividades da -jornada;
• o culto da Eucaristia fora da Missa ajuda-nos a dar conta de que o mesmo Senhor Ressuscitado, que se nos dá como alimento na celebração, está presente nas vinte e quatro horas do dia, comunicando-nos a sua força e a sua vida: Ele é, na verdade, o «Emanuel», o Deus-connosco.
O Ritual citado, de 1974, enumera, motiva e regula, no seu capítulo terceiro, as «várias formas de culto»: a exposição breve e a mais prolongada, as procissões, os congressos eucarísticos, etc. Sublinhando sempre que estas formas de culto devem proceder da celebração e conduzir a ela, e que na nossa espiritualidade devemos chegar a uma síntese frutuosa entre ambos os aspectos: a celebração e o culto.