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Sábado

Sabbat significa, em hebraico, «descanso». No sétimo dia da criação, Deus «descansou» da sua obra. 
Por ser o dia de descanso, à imitação de Deus, o Sábado converteu-se para os Judeus num dia socialmente muito significativo, com o aspecto humanitário da cessação do trabalho e da igualdade fraterna, entre as pessoas: o homem não deve ser escravo do trabalho nem de outro homem. Além disso, é o dia que lhes recorda e faz celebrar o poder criador de Deus, Senhor do Universo, recordando também a libertação do Êxodo. Sobretudo, o Sábado é para os Judeus o dia da Aliança, que recordam em cada semana, precisamente dedicando-o ao descanso e ao culto a Javé. 
Cristo não ab-rogou o Sábado, reconhecendo os profundos valores que tem para os Judeus, embora tenha criticado a interpretação exagerada que no seu tempo lhe davam algumas escolas rabínicas. Relativizou alguns dos seus aspectos e manifestou-se como «Senhor do Sábado». A comunidade cristã, que continuou a guardar o Sábado, foi dando maior relevo e um conteúdo teológico novo ao dia a seguir ao Sábado, o dia em que Cristo ressuscitou, e que se passou a chamar, em finais do século I, «Dia do Senhor». Não se tratava de uma simples substituição do Sábado pelo Domingo, mas a consciência de que o novo dia dava plenitude e cumprimento ao Sábado. O Domingo foi, desde então, «o dia primeiro» e, ao mesmo tempo, «o oitavo dia», radicalmente centrado em Cristo Glorioso. «O Sábado, que representava o acabamento da primeira criação, é substituído pelo Domingo, que lembra a criação nova, inaugurada na ressurreição de Cristo» (CIC 2190). 
O Sábado continuou a ter, ao longo dos séculos, um sentido peculiar. Muito depressa se destacaram três dias da semana: a sexta-feira, pela morte de Cristo; a quarta-feira, porque na noite de terça-feira foi atraiçoado por Judas; e, mais tarde, também o Sábado. Relativamente ao Sábado, houve ao longo dos séculos uma certa ambiguidade. Por ser o dia sagrado dos Judeus, houve, porém, duas tendências contraditórias, conforme se lhe dava um tom penitencial ou um tom festivo: em Roma, ¬come¬çou a fazer-se jejum neste dia, em sinal de penitência e reparação; enquanto que, no Oriente e noutras regiões, era como uma antecipação festiva do Domingo, e, em muitas regiões, incluindo a celebração da Eucaristia. O aspecto penitencial permaneceu depois só em Têmporas. 
No Ocidente, a partir do século IX--X, em ambiente monástico carolíngio, acentuou-se um tom mariano para o Sábado. Nos Missais oficiais, a partir do século XII, já aparecem missas para a memória de «Sancta Maria in sabba¬to», que, depois, o Missal de S. Pio V, em 1570, já incluirá definitivamente. 
Na Collectio Missarum de Beata Maria Virgine (1986), que oferece muitos formulários, e mais ricos, para estas memórias marianas do Sábado, afirma--se que «a memória de Santa Maria “no Sábado” celebra-se em muitas comu¬nidades como uma introdução ao “dia do Senhor”; assim, enquanto se pre¬param para celebrar a memória semanal da ressurreição do Senhor, contemplam com veneração a Virgem San¬ta Maria, que, “no grande sábado”, quan¬do Cristo jazia no sepulcro, sustentada pela fé e pela esperança, só ela, entre os discípulos, esperou vigilante a ressurreição do Senhor» (n. 36; in EDREL 2037).